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Brothers – Entre Irmãos


Feridas provocadas pela guerra que parecem não curar nunca foram retratadas, até hoje, por dezenas de filmes em Hollywood. O diferencial de Brothers em relação aos demais é a sua tentativa de colocar em primeiro plano a relação familiar que cerca um veterano de guerra. Não entra em jogo, nesta história, sua busca por se encaixar na sociedade, como tentativas frustradas de encontrar um novo emprego ou sua luta para vencer o alcoolismo. Na verdade, tudo o que o protagonista de Brothers deseja é voltar para o “terreno seguro” dos enfrentamentos militares. O cartaz da nova produção dirigida pelo veterano Jim Sheridan dá a dica sobre o que diferencia realmente esta produção: a possibilidade de um triângulo amoroso protagonizado por dois irmãos. Ainda que bem escrito, com uma direção segura e interpretações variáveis, Brothers parece ter ficado dois tons abaixo do ideal.

A HISTÓRIA: A bandeira dos Estados Unidos é hasteada no Fort Mahlus no dia 7 de outubro de 2007 e um grupo de soldados corre nas primeiras horas da manhã. Integra o pelotão bem preparado pelo Exército o capitão Sam Cahill (Tobey Maguire). Ele conta os dias – quatro, precisamente – para ser enviado novamente ao Afeganistão. Antes, escreve uma carta de despedida para a esposa, Grace (Natalie Portman). Ele espera que ela não precise recebê-la. Sam deixa a carta que escreveu para o major Cavazos (Clifton Collins Jr.) antes de dirigir para casa, onde encontra a esposa e suas duas filhas, Isabelle (Bailee Madison) e Maggie (Taylor Geare). Pouco depois, Sam vai até o presídio local, pegar o irmão mais novo, Tommy (Jake Gyllenhaal), que está saindo em condicional. Grace não gosta de Tommy, mas ele acaba sendo o apoio inesperado da família quando Sam não volta para casa do Afeganistão.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a Brothers): Eu gosto do estilo do diretor Jim Sheridan. Uma de suas marcas registradas é tratar temas sérios e duros com uma levada marcante de “modernidade” – para alguns, uma levada pop. O primeiro filme dele que me marcou foi My Left Foot: The Story of Christy Brown, com um marcante Daniel Day-Lewis como protagonista. Depois, me marcou muito In the Name of the Father, com uma interpretação igualmente marcante de Day-Lewis e uma trilha sonora poderosa que contava, entre outros, com Bono, do U2. Não foi por acaso que aquela produção, de 1993, recebeu sete indicações ao Oscar. Sheridan, contudo, não é um diretor prolífico. Em 20 anos, ele dirigiu apenas sete filmes. Brothers, sua última produção lançada nos cinemas, surgiu quatro anos depois de seu trabalho anterior.

Novamente Sheridan consegue equilibrar na medida exata imagens bem captadas/planejadas, uma trilha sonora moderna e atuações competentes. Ainda que Tobey Maguire tenha conseguido com o personagem de Sam um de seus papéis mais “adultos” dos últimos tempos, ele ainda lembra a imagem do “adolescente-prestes-a-virar-adulto” que parece lhe acompanhar sem descanso desde Spider-Man e The Cider House Rules. Jake Gyllenhaal praticamente não muda a sua expressão durante todo o filme, e Natalie Portman, esta sim, parece navegar bem nos diferentes sentimentos com os quais sua personagem deve lidar.

Com isso, não quero dizer que Tobey Maguire, por exemplo, está mal no filme. Não. Talvez em Brothers ele consiga um dos primeiros papéis sérios de sua carreira – e ele, geralmente, consegue segurar esta responsabilidade com competência. O problema talvez resida no fato de que este filme, com roteiro de David Benioff, resolve dar uma “acelerada” no final. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Teria sido muito melhor para a história e para a interpretação de Maguire se ele tivesse mais tempo de desenvolver a “estranheza” de voltar para casa depois da experiência traumatizante do Afeganistão. O roteirista decidiu gastar muito mais tempo do filme com a aproximação de Tommy com a família do irmão do que em explorar a adaptação (ou melhor, a falta dela) de Sam no retorno para casa. Acredito que se o espectador tivesse mais tempo de observar o quanto o pai das meninas estava frio, ausente e distante de sua mulher e de suas filhas, a história convenceria mais no final – e Maguire teria um terreno adequado para mostrar seu talento sem parecer “estranhamente desesperado”, como na sequência da quebradeira na cozinha.

Mas antes de continuar falando do trio de atores principais de Brothers, vamos comentar sobre o que o filme nos conta. Importante citar que esta nova produção de Jim Sheridan é uma refilmagem do dinamarquês Brodre, dirigido por Susanne Bier (de Efter Brylluppet e Things We Lost in the Fire, comentado aqui no blog, entre outros), uma das melhores diretoras de seu país, e lançado em 2004. Não assisti ao filme original, mas pelo estilo de Bier e do roteirista Anders Thomas Jensen, algo me diz que a produção original deveria ser mais ousada que esta refilmagem de Sheridan – quem assistiu aos dois, por favor, comente a respeito. Uma das razões que fazem Hollywood “repaginarem” produções de outros países é a de “emprestarem” boas idéias e transformá-las em um produto de vitrine, que poderá, em teoria, ser visto por um público muito maior.

A verdade é que o argumento de Brothers é muito interessante. Ele traz, como eu disse lá no início, a idéia das “feridas de guerra” vista em outra perspectiva. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). O ponto central do roteiro reside no cotidiano da família Cahill. Temos, em jogo, a boa e velha “disputa” entre irmãos – um tratado como herói, o outro, como bandido. Essa disputa nasceu há muito tempo, quando Sam e Tommy ainda eram crianças. O irmão mais novo sente-se sempre subjugado pelo mais velho – especialmente pela visão que ele acha que o pai deles, Hank (Sam Shepard), preserva desde que eles eram jovens. Ainda assim, os garotos, aparentemente, conseguiram manter o laço de confiança, amor e irmandade bastante fortes. Como muitos filmes dinamarqueses, a questão familiar ganha protagonismo mesmo quando o assunto é a guerra.

Para os que tem pressa em ver “algo acontecer” em um filme, Brothers não demora muito para promover as mudanças na dinâmica da história. Rapidamente ocorre uma “dança de cadeiras” no núcleo familiar dos Cahill. Sai de cena o aparentemente equilibrado e amoroso Sam, que volta para os terrenos perigosos do Afeganistão, e entra no convívio de Grace e filhas o até então inconstante e problemático Tommy. (SPOILER – não leia… bem, você já sabe). Com esta mudança de papéis involuntária, Brothers lança outra reflexão: ninguém é apenas uma coisa nesta vida. Nem Sam era o herói acima de qualquer suspeita e muito menos Tommy era o problemático que todos estavam acostumados a olhar com desconfiança. Quando o irmão mais novo assume, naturalmente, as responsabilidades do mais velho, Brothers nos ajuda a refletir sobre como o rol social pode ajudar a definir uma pessoa.

O que ninguém percebe – e nisto o espectador é colocado em lugar previlegiado porque, ele sim, sabe o que está acontecendo – é que o herói Sam perde esta sua definição quando é capturado no Afeganistão. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao filme). Perdido, sem saber que papel continuar seguindo na vida – e é a identidade pessoal e o rol social que assumimos na sociedade o que nos define -, Sam se sente totalmente desnorteado e sufocado pela realidade da família que, ainda, o vê como herói (mesmo depois dele ter matado um companheiro de Exército para conseguir continuar vivo). A dura realidade exposta com naturalidade por Brothers nos mostra um protagonista que busca, no seio familiar, qualquer indício de traição. Ele quer encontrar, seja em Grace ou em Tommy, a mesma traição que ele sente ter praticado contra o Exército, simbolizado pelo soldado Joe Willis (Patrick Flueger) e, indiretamente, contra a sua própria vida (identificada pelo rol social de herói). Sam não suporta, em resumo, olhar-se no espelho – e/ou confrontar-se com si mesmo.

Em certo ponto do filme, Sam comenta que se sente em casa no Afeganistão, acompanhado de “seus homens” (soldados). (SPOILER). Quando ele pratica uma traição neste ambiente “familiar” do Exército, no momento em que ele quebra a confiança em seu “segundo” lar, parece quase natural que ele busque a mesma “sujeira” em sua família original. Para que ele tenha alguma absolvição, é preciso que Grace ou Tommy tenham traído a sua confiança também. Esta reflexão vai fundo em um sentimento irreparável de perda e de cobrança que parece cercar os veteranos de distintas guerras. Mas poucas vezes este assunto foi tratado de forma tão pessoal e com diferentes camadas interpretativas. Um belo trabalho dos roteiristas originais, Bier e Andersen e, neste filme de Sheridan, de Benioff. Ainda que, francamente, achei que o filme poderia ser um pouco mais longo, para que o espectador pudesse acompanhar com um pouco mais de tempo as mudanças pelas quais passa Sam – especialmente no ambiente familiar. A acelerada no final prejudicou um pouco o desempenho de Tobey Maguire – que vinha fazendo um dos melhores trabalhos de sua carreira.

Em alguns momentos, Jake Gyllenhaal e Natalie Portman conseguem acompanhar o nível de entrega de Maguire. Gyllenhaal, por exemplo, consegue variar bem o tom rude com o qual o seu personagem sai da prisão com a leveza que ele encontra quando reencontra a alegria de fazer parte de uma família – composta por crianças. Ainda que, francamente, me irrite um pouco aquela sua permanente expressão de “cachorro abandonado” – a mesma que se vê quando ele fala com o pai na cozinha de Grace e a que ele esbanja quando enfrenta o irmão, perto do final do filme. Natalie Portman se mantêm firme e coerente com a sua personagem, ainda que eu tenha sentido a falta de um pouco mais de emoção a partir do momento em que Sam volta estranho para casa – especialmente na já citada cena de descontrole do marido na cozinha. Mas no geral, o núcleo central de Brothers trabalha muito bem – e, admito, sou suspeita para falar, porque gosto muito dos três atores principais.

Antes de falar dos aspectos técnicos do filme, como a direção de fotografia e a trilha sonora, uma última reflexão sobre a sua história. (SPOILER). Não deixa de ser interessante como Gracie e Sam tomam atitudes para não “tornar verdadeiras” as realidades que eles não querem aceitar. Gracie, primeiro, deixa de abrir a carta escrita por Sam antes dele “morrer” no Afeganistão – como se, ao ler a sua despedida, ela aceitasse que ele havia morrido. Depois, Sam evita ao máximo revelar, para quem quer que seja, o que ocorreu no tempo em que ele ficou prisioneiro no Afeganistão. É como se, ao verbalizar o seu ato de traição para alguém, ele tornasse este ato, finalmente, real. Palavras escritas ou proferidas parecem ter, na história de Brothers, a capacidade de materializar realidades. O que, na vida real, parece também ser verdade. Não sabemos se Sam conseguirá aceitar o fato de que continua vivo – e enfrentar/absolver seus próprios “pecados”. Mas a história de amor dele e de Grace, o ponto central deste filme, parece ser o único caminho possível para ajudá-lo neste sentido.

NOTA: 8,8.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Um dos primeiros elementos que me chamou a atenção neste filme foi a trilha sonora de Thomas Newman. O veterano e premiado compositor fez um trabalho muito bom com Brothers. Escolheu a dedo composições que casaram perfeitamente com a história. E a estrela entre elas, Winter, composta por Bono e o U2, aparece apenas nos créditos finais. Como se ela fosse uma ode à história de amor e sobrevivência que acabamos de assistir. E o U2, velho parceiro de Jim Sheridan, é “homenageado” em outra parte do filme, quando seu clássico, Bad, ganha um papel curioso na aproximação de Grace e Tommy. Mas além da banda de origem irlandesa, integram a trilha sonora de Brothers músicas como Rocky Mountain Man (escrita por David Manzanares e interpretada por David James), Empty Sky (interpretada por Simon Wilcox), entre outras. A música, neste filme, casa perfeitamente com a história e as imagens algumas vezes poéticas de Sheridan.

O diretor, aliás, faz um trabalho bastante correto. Ainda que o foco de suas câmeras sejam sempre a intepretação dos atores em cena, não lhe escapam detalhes como as imagens captadas por Sam no Afeganistão ou a aliança do capitão deixada no pescoço de sua esposa. Em vários momentos Sheridan assume a posição de um observador “íntimo”, familiar, como é o caso das cenas da intimidade de Grace e Sam da parte inicial da produção. Em outras ocasiões, como nos atos de tortura sofridos por Sam e Joe no Afeganistão, Sheridan mantêm a sua câmera distante, como que em sinal de reprovação ao que está sendo mostrado (ou como indicativo de perigo). A posição e o grau de intimidade do “observador” mudam conforme a situação, mas em nenhum momento o espectador é privado do que está ocorrendo. Uma forma de narrar tradicional e ao mesmo tempo cuidadosamente planejada – o que apenas comprova a experiência e o talento de Sheridan.

Outro ponto importante do filme é a qualidade técnica da direção de fotografia de Frederick Elmes. Ele utiliza um jogo de lentes que puxam as cores sempre um pouco para ao cinza, ressaltando a crueza da difícil realidade que cerca a família Cahill. Mesmo nos momentos “felizes” de brincadeiras na neve, quando Sam está ausente, o tom das imagens parece recordar os espectadores de que aquela felicidade é apenas aparente, talvez “falsa”. Afinal, o “herói” da história está passando por maus bocados longe dali. Quando ele volta para casa com o peso da culpa e com a necessidade de encontrar “bodes-expiatórios” para os seus próprios “pecados”, o tom cromático é o mesmo. Uma escolha interessante de Elmes que, com a escolha deste tom permanentemente “cinzento”, parece nos lembrar que esta história não é simples – ainda que, no fundo, ela trate de amor e perdão.

Além do trio de protagonista, é importante citar que o elenco de apoio também se mostra muito competente. Do veterano Sam Shepard até as jovens Bailee Madison e Taylor Geare (especialmente Bailee), todos incorporam com perfeição as diferentes experiências e sentimentos pelos quais passam o seus personagens. Vale a pena citar ainda o trabalho de Mare Winningham como Elsie Cahill, madrasta de Sam e Tommy; Carey Mulligan como Cassie Willis, viúva do soldado Joe; Omid Abtahi como Yusuf, o chefão dos “vilões” do Afeganistão, e Navid Negahban como Murad, o seu braço direito.

Brothers não tem como objetivo discutir o papel de “mocinhos e bandidos” em uma invasão/ocupação como a do Exército dos Estados Unidos no Afeganistão. Ainda que os soldados norte-americanos apareçam apenas como “vítimas” dos terroristas, o objetivo do filme não é discutir este tema, e sim mostrar o que acontece na vida familiar de quem resolve se dedicar a uma “causa” como a de proteger o seu próprio país.

O mais recente filme dirigido por Sheridan estreou no início de dezembro de 2009 em Israel, no Canadá e nos Estados Unidos. Em seu currículo, até o momento, a participação em apenas um festival, o de Dubai. Talvez por isso ele tenha sido indicado a apenas três prêmios: um da Broadcast Film Critics Association e outros dois do Globo de Ouro.

Até o início deste ano Brothers havia arrecadado pouco mais de US$ 25,3 milhões nos Estados Unidos. Uma bilheteria razoável para um filme que não teve um grande investimento de marketing – só para comparar, o mega divulgado Nine conseguiu, até o momento, pouco mais de US$ 13,7 milhões.

As opiniões sobre Brothers são positivas, ainda que nada arrebatadoras. Os usuários do site IMDb, por exemplo, deram a nota 7,6 para o filme. Por sua vez, os críticos que tem textos linkados no Rotten Tomatoes foram mais duros com a nova produção de Sheridan: lhe dedicaram 60 críticas positivas e 45 negativas, o que garante para Brothers uma aprovação de 57%. Um dos críticos que reprovou Brothers foi Rex Reed, do The New York Observer. Neste texto Reed afirma que esta foi uma refilmagem desnecessária. Ele comenta que o drama ao estilo Caim e Abel ambientado em uma cidade do interior dos Estados Unidos tem mais clichês do que um filme pode suportar. Concordo com ele quando o crítico afirma que as mudanças de papéis entre os irmãos ocorrem muito rapidamente e de forma alarmante – e, por isso, de maneira um pouco difícil de acreditar. Esse, sem dúvida, é o principal problema do filme.

David Denby, do The New Yorker, comenta que os atores Tobey Maguire e Natalie Portman não parecem caminhar juntos – ou, em outras palavras, não tem a sintonia necessária para seus papéis. Nesta curta crítica, Denby bate firme na sequência em que Maguire se descontrola na cozinha da família – chamando seu trabalho de pirotecnia ao invés de interpretação. Pegou pesado, não? O crítico considera o filme The Messenger, que trata de um tema similar, melhor que Brothers. A conferir.

Neste outro texto, Liam Lacey afirma que o desejo de Brothers em emocionar o público acaba enfraquecendo a história, ao tranformá-la em um melodrama. Gostei, especialmente, quando Lacey faz um paralelo entre as irmãs Maggie e Isabelle e os irmãos Sam e Tommy. Realmente na questão disputa, insegurança e “queridinha/o-de-todos” as duas filhas de Sam se parecem com ele e o irmão Tommy. Lacey ainda destaca o trabalho de Sheridan com os atores, comentando o desempenho maduro de Natalie Portman e a eficácia dos demais intérpretes em seus respectivos papéis. Mas o crítico afirma que o principal pecado do filme é o de tentar ser “potente” desde o princípio. Ainda que respeite o material original, o filme de Sheridan tem uma dinâmica muito diferente que seu predecessor. Para Lacey, o estilo do original dinamarquês, filmado sob os preceitos do Dogma, captava a realidade através do uso de câmeras na mão da diretora, revelando naturalmente a angústia da crise familiar retratada. A busca de Sheridan por confrontar a realidade do Afeganistão com a do cotidiano familiar dos Cahill acaba colocando o espectador em guarda contra a manipulação das performances das estrelas do elenco, dos “riffs” de guitarra e da arrebatadora canção final do U2. Interessante reflexão.

Tom Long, do The Detroit News, afirma neste texto que Brothers surpreende ao público e que esta produção, mesmo contando com um elenco afiado, é mesmo de Tobey Maguire. Long considera o último filme de Sheridan perturbador. A sempre interessante Claudia Puig, do USA Today, destaca neste texto a agilidade de Sheridan como contador de histórias e o seu talento para dirigir o trabalho dos atores – mesmo os mais jovens/crianças. “Embora tenha várias cenas poderosas e comoventes, o filme também apresenta momentos de artifício desnecessários”, comenta Puig – e ela tem razão. Ainda assim, a crítica afirma que Brothers acaba sendo instigante em sua tentativa de explorar a natureza complexa dos vínculos familiares – onde as feridas causadas por um pai perturbado podem ser tão dolorosas quanto as cicatrizes de uma batalha.

A crítica Lisa Kennedy, do Denver Post, destaca a interpretação das meninas que interpretam as filhas de Sam e Grace – para ela, neste texto, elas são o ponto forte de Brothers. Peter Howell, do The Star, comenta neste texto que a comparação entre um remake e seu original é praticamente uma forma de punição para a nova produção. Sem hesitar, o crítico afirma que o original, dirigido por Susanne Bier, é melhor que o filme de Sheridan em todos os aspectos. Howell destaca o trabalho de “alto calibre” de Maguire, Gyllenhaal e Portman, ainda que, para ele, falte a naturalidade mostrada pelos atores dinamarqueses do filme original. “No Brothers original, você pode entender melhor as motivações dos personagens e as decisões que eles tomam”, afirma o crítico. Para Howell, ainda com todos os seus “pecados”, o Brothers de Sheridan merece ser visto – especialmente pelas performances de seus atores.

Eu admiro cartazes e sites de filmes que primam pela simplicidade e pela plasticidade. Este é o caso de Brothers, que tem um pôster e um site oficial bem feitos e muito limpos.

CONCLUSÃO: Com uma história poderosa que explora os efeitos da guerra na intimidade de uma família, Brothers evidencia o trabalho do seu trio de atores principal. Sob a batuta do experiente Jim Sheridan, Tobey Maguire e Natalie Portman conseguem interpretações maduras – talvez as melhores de suas respectivas carreiras nos últimos tempos. Jake Gyllenhaal e as jovens Bailee Madison e Taylor Geare também se destacam nesta produção. Com um desenvolvimento natural e parte de sua narrativa dividida em duas realidades – uma nos Estados Unidos, outra no Afeganistão -, Brothers sofre, contudo, com mudanças no roteiro bruscas demais. O resultado é que parte da história acaba parecendo um tanto artificial e/ou forçada além do desejado. Ainda assim, é destes filmes que emocionam e fazem pensar. Não apenas sobre os efeitos da guerra na vida prática de seus sobreviventes, mas sobre o papel que certas pessoas desempenham em suas famílias e sobre a capacidade delas em conviver com os seus próprios pecados.

PALPITE PARA O OSCAR 2010: Brothers não deve ter muitas chances na próxima premiação da Academia. Se o Globo de Ouro serve de termômetro para o Oscar, o novo filme de Jim Sheridan poderia emplacar indicações para Tobey Maguire e para a música Winter, do U2. Francamente, não acho que Maguire tenha alguma chance real de levar uma estatueta para casa – acho difícil, inclusive, que ele consiga chegar entre os cinco indicados ao prêmio. Por mais que o ator tenha se entregado no papel de Sam Cahill, ele fica atrás de outros colegas bastante cotados nesta categoria. Winter, por outro lado, tem grandes chances de ser indicada na categoria de Melhor Canção Original. Mas para vencer, Bono e colegas de banda terão que levar a melhor na queda-de-braços com os representantes de Avatar, Nine e Crazy Heart, entre outros. O páreo será duro. Dificilmente Brothers conseguirá alguma outra indicação, mas não seria absurdo vê-lo surpreendendo a muitos nas categorias Melhor Atriz (com Natalie Portman), Melhor Ator Coadjuvante (com Jake Gyllenhaal) ou Melhor Trilha Sonora Original. Mas se eu fosse apostar, diria que Brothers sairá de mãos vazias do Oscar.

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

7 respostas em “Brothers – Entre Irmãos”

Brothers me passou aquele sentimento de ver algo bom, acreditando que poderia ser ótimo.

Acho também que Maguire até tentou, mas não conseguiu surpreender muito, apesar de um personagem riquíssimo. (poxa, e a cara de moleque que não ajuda muito, he he ).
Aliás, adoreito a interpretação da garotinha mais velha, em alguns momentos tá melhor que ele.

Legal sua obs. – O filme consegue se manter longe das discussões sobre legitimidade de guerra ou quem é o bandido, mas tenta trabalhar bem com as feridas e sequelas disso tudo, em um contexto de conflito familiar.

Nota 7 pra mim.

opa, só pra não perder o costume, segue mais uma dica de filme que eu vi – (Excelente!)
http://www.imdb.com/title/tt1364487/

Beijo Ale!

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Olá Mangabeira!!

Tens razão, Brothers passa esse sentimento mesmo… de que é bom, mas poderia ser melhor. Ainda assim, sou suspeita para falar porque, afinal, gosto muito do diretor e dos atores… e isso sempre afeta os meus julgamentos. hehehehe

Achei que o Maguire está bem, especialmente porque estamos acostumados a vê-lo em papéis mais “adolescentes”, por assim dizer. E este papel não, é algo mais sério dentro de sua filmografia… agora, certamente, um outro ator em seu lugar provavelmente teria aproveitado melhor a oportunidade. Concordo contigo neste ponto.

Talvez tua nota 7 esteja mais perto da realidade do que a minha, mas sou facilmente manipulável pelos atores/diretores que eu gosto. Bem, talvez eu ficaria em um 8… hehehehehe.

Postia Pappi Jaakobille é o representante da Finlândia no próximo Oscar, certo? Sim, sim, ele está na minha lista para ser assistido. Mas agora, com a tua recomendação, ele levou uma estrelinha do lado – sinal de que devo assistí-lo logo. Obrigada pela dica.

Beijos e abraços e inté!

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Olá Jéssica!!

Primeiramente, seja bem-vinda por aqui.

Olha, se parares para ler o parágrafo logo depois do tópico “Obs de pé de página”, vais encontrar o nome de algumas músicas e artistas que fazem parte da trilha sonora deste filme. Agora, não sei se a música que queres saber o nome está comentada ali ou se queres saber de outra – e daí terias que ser mais específica.

De qualquer forma, obrigada por tua visita e por teu comentário. Volte mais vezes.

Um abraço!

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Olá cristiano!!

Puxa, que bom que gostaste do “conceito” e do cuidado que eu tenho com o blog. Achei muito bacana e estimulante o teu comentário.

E espero mesmo que voltes por aqui mais vezes, inclusive para falar de outros filmes. Ah, e obrigada por essa tua primeira visita e comentário.

Abraços!

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