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La Grande Bellezza – The Great Beauty – A Grande Beleza


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Há tanta beleza no mundo. E também há tanta solidão. Mas é possível se “armar” de virtudes para aprender com o que nos rodeia e para desfrutar desta vida de prazeres e sacrifícios. La Grande Bellezza é uma destas produções que capricha no visual e também acerta nas reflexões e críticas. Um filme como há bastante tempo não se via. Um deleite para quem gosta do cinema que aposta no realismo fantástico em determinados momentos e, em outros, no puro realismo observador contundente.

A HISTÓRIA: Começa com o trecho de Viaggio al Termine della Notte de Louis-Ferdinand Céline que diz que viajar é algo útil porque exercita a imaginação. Todo o resto é “desilusão e fadiga”. E essa viagem totalmente imaginária vai da vida até a morte, podendo ser feita por qualquer pessoa. Tiro de canhão e aplausos. Tocam os sinos, e vemos um homem observando o monumento com a frase “Roma ou morte”.

A câmera passeia por pessoas, estátuas e lugares desta cidade italiana que será vital para a história. Um turista asiático se separa de um grupo e morre. Do canto clássico que serve de pano de fundo para o colapso do turista, pulamos para a música eletrônica de mais uma festa na casa de Jep Gambardella (Toni Servillo). Ele está celebrando mais um aniversário, sem saber que em breve fará uma revisita ao passado enquanto segue desfrutando dos prazeres da boa vida em Roma.

VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler quem já assistiu a La Grande Bellezza): Estava com saudade de uma produção que encarnasse algumas das características mais admiráveis do cinema italiano. Aquele realismo fantástico que serviu como arma potente de Fellini e que embalou tanto os nossos devaneios como público que gosta do belo, do lírico e da arte. Pois bem, La Grande Bellezza nos remete a todo esse passado, mas com uma visão bastante moderna do que é belo e do que é essencial. Um cinema que não é muito comum, nos dias de hoje, e que por isso mesmo nos fazia tanta falta. Porque não envelhece.

O problema deste filme é que ele, a exemplo do recentemente comentado por aqui Stories We Tell, poderia render uma tese de doutorado, praticamente. Estes são filmes tão ricos e cheios de significo que um simples texto como este já nasce limitado. Mesmo sabendo disso, tentarei jogar por aqui algumas impressões do que eu achei de mais importante nesta produção maravilhosamente dirigida pelo admirável Paolo Sorrentino.

Como eu comentava antes, impossível não lembrar de Federico Fellini ao assistir a La Grande Bellezza. O mestre do cinema italiano que morreu aos 73 anos em outubro de 1993 – há exatos 20 anos – fez diversos filmes em que brincou com as noções de realidade e ilusão/fantasia, além de ser conhecido por uma direção de fotografia primorosa. E como esta nova produção de Sorrentino é ambientada em Roma, que acaba sendo quase uma personagem da trama – a exemplo de vários filmes de Woody Allen -, imediatamente vem à lembrança La Dolce Vita e mesmo Roma, mesmo que eu já não lembre de muita coisa destes filmes que marcaram a filmografia de Fellini.

Dito isso, vamos mergulhar em La Grande Bellezza. Para começar, gostei muito daquele passeio que o diretor e roteirista Sorrentino faz por diferentes lados da Roma moderna. Iniciamos o “giro” de dia, vendo a italianos e turistas se misturando em locais belíssimos da cidade. Em seguida, mergulhamos na noite, no seio de um grupo de pessoas influentes da cidade – formado por artistas e intelectuais. E ainda que o protagonista se revele um homem que adora a noite e as festas, no restante do filme vamos orbitar entre as belezas diurnas e noturnas da cidade romana.

Em cada escolha de câmera, uma bela imagem. É como se não houvesse um segundo de desperdício em La Grande Bellezza. Algo milimetricamente planejado por Sorrentino, que teve a ideia da história deste filme mas que escreveu o roteiro de La Grande Bellezza ao lado de Umberto Contarello. É necessário também, pela grandeza das imagens desta produção, tirar o chapéu para o diretor de fotografia Luca Bigazzi.

Como pede um bom roteiro, em La Grande Bellezza vamos mergulhando na vida de Jep Gambardella aos poucos. Ao acompanhar os passos do protagonista, percebemos que ele não é apenas um homem frívolo, que gosta de festas e da beleza. Ele é um sujeito que desfrutou muito da vida, foi capaz de escrever uma obra bastante elogiada, mas não conseguiu ir além disso. Ainda assim, é um sujeito que tem um olhar curioso sempre e generoso na vontade de conhecer as pessoas e o que elas fazem. A ponto de conhecer e ser reconhecido por aparentemente quase todas as pessoas que vivem em Roma.

Interessante como o personagem de Jep é construído, tanto pelo roteiro quanto pelo ator que o interpreta. Para mim, foi impossível não simpatizar com o trabalho de Toni Servillo. Ele torna o homem frívolo e escritor “fracassado” que não conseguiu produzir uma outra obra além daquela inicial em um sujeito simpático, que olha com atenção para tudo e para todos, e que não demora muito para ser confrontado com as reminiscências de um amor do passado. Talvez o seu único grande amor – e que ele deixou escondido nas gavetas mais escuras da própria lembrança.

Seguindo os passos de Jep vamos nos confrontar com múltiplos ambientes artísticos – a maioria deles se revela uma trágica caricatura do que pensamos, de fato, ser arte, em uma crítica interessante deste gosto artístico que me parece geralmente perdido no nosso tempo. Tudo vale em arte, praticamente, como já nos mostrou Andy Warhol a partir dos anos 1960. E esta tendência só “piorou” nos anos 2000. Pois bem, esta beleza “sem fim” do belo, e arte normalmente é uma expressão desta busca, está plasmada em diferentes manifestações artísticas em La Grande Bellezza. E junto com estes cenários, conhecemos a fauna mais diferente de indivíduos.

O objetivo parece claro. Brincar com os estereótipos mais diversos – da editora anã até a amiga magra e moralista, do autor que busca a aprovação na mulher que deseja até as belas mulheres que são ótimas companhias na cama e na noite mas com quem o protagonista não se envolve de verdade – para fazer um quadro dos tipos, ambientes e desejos de uma Itália atual. Roma, como tantas outras cidades cosmopolitas do mundo, acaba virando um celeiro de pessoas e de acontecimentos, desejos, aspirações e frustrações. Parte deles está neste filme.

Além disso, algo que achei marcante em La Grande Bellezza é como ele está sempre jogando com o realismo fantástico. Em diversos momentos mergulhamos nas reminiscências do protagonista, que viaja no tempo e nos sentimentos para resgatar seus melhores momentos. E em outros, a realidade é tão fantástica e cheia de simbolismos que parece que tudo não passa de um devaneio – como na cena em que ele passa por diferentes figuras envelhecidas, como ele próprio, quando vai comprar cigarros em um bar.

O bacana deste filme é que ele não é apenas uma junção de belas cenas, um trabalho elogiável de direção e de um diretor de fotografia. Além de ritmo e beleza, La Grande Bellezza tem conteúdo. E ele começa a se tornar mais sério e profundo no encontro entre amigos na casa de Jep quando ele confronta a amiga Stefania (Galatea Ranzi).

A arrogância demonstrada por ela, somada a sua vontade de julgar aos demais, seguida de uma avaliação sem filtro do protagonista, poderia resumir o comportamento de grande parte da população mundial. Pelo menos destas pessoas que vivem na cultura do “eu, eu, eu” e que escondem com este comportamento, como explica Jep, “uma certa fragilidade e sentimento de inadequação”. Perfeito. Como bem ensina nosso amigo Jep, o melhor que as pessoas podem fazer é alimentar relações vitais de amizade, tratando as pessoas com afeto e compaixão.

Além da arte, La Grande Bellezza flerta com diferentes fórmulas de busca da felicidade e de “salvação”. Interessantes diversas cenas neste sentido, especialmente a sequência do “professor” que, aparentemente, resolve as “crises existenciais” com doses de botox. hehehehehehehe. Não consigo imaginar uma crítica mais mordaz ao culto da beleza plastificada e falsa que habita parte das rodas da sociedade. E tudo para evitarmos ao máximo a nossa mortalidade e decadência física e mental – partes inevitáveis da vida.

Na parte final do filme, La Grande Bellezza explora ainda mais esta distinção entre o verdadeiro e a ilusão. Antes, há uma sequência interessante em que Jep nos ensina a etiqueta de um velório. Tudo parece encenado, e a elegância, brinca o roteiro, tem a ver com esta encenação para a busca do maior efeito possível de cada ato. Tudo planejado, só que nem sempre a vida se molda ao nosso desejo, como também revela o fim de dito funeral.

Finalmente, e como acontece com todo o indivíduo quando ele sente a própria fragilidade, Jep verbaliza alguns questionamentos existenciais. Aparentemente ele viveu uma grande e prazerosa vida. Teve contato com pessoas formidáveis e acesso a diversões quase inesgotáveis. Mas tudo tem o seu fim… mas ele segue sendo um sujeito cheio de esperança e graça. Ao ponto de dançar com Stefania e dizer que o futuro será maravilhoso.

Impossível tratar de todos os temas que La Grande Bellezza aborda. Mas alguns dos centrais, sem dúvida, é a busca do indivíduo pela beleza, por desfrutar da vida, e o grande valor das amizades nesta nossa existência. E do amor também, é claro. Este último o sentimento que nos eleva e “santifica”. E por falar em santos… muito interessante a personagem da irmã Maria (Giusi Merli). Evidentemente que ela surge para contrastar com o protagonista. Mas o curioso é que eles acabam fazendo uma dupla interessante.

Diferente do que outros poderiam imaginar, a freira dedicada que deve se tornar santa admira o frívolo Jep e deseja se encontrar com ele. Jep, por sua parte, também admira Maria, e os dois tem uma grande curiosidade um pelo outro – especialmente porque eles fazem parte de mundos muito diferentes. Bacana isso. O encontro destes extremos provoca uma grande reflexão em Jep, que já vinha em um crescente questionamento. E daí temos o derradeiro final, que nos dá um gostinho de “sentido da vida”.

Mas antes, e este é mais um acerto de La Grande Bellezza, o filme mostra como um padre cotado para ser o futuro Papa pode ser tão desinteressante. Se deixarem, ele não para de falar. O oposto da “santa” Maria que, como ela mesmo explica, vive o que acredita – e não precisa ficar falando a respeito. Um tapa na cara de tantos integrantes da Igreja que vivem de ilusão e de palavras e quase nada de ação – crítica do atual Papa Francisco, inclusive. Esta sequência tem tudo a ver com o final. Que como o resto do filme, é brilhante.

NOTA: 10.

OBS DE PÉ DE PÁGINA: Tudo funciona com perfeição em La Grande Bellezza. Paolo Sorrentino comprova que sabe usar todos os recursos que o cinema atual permite – descontados os efeitos especiais, claro, porque este não é um filme que necessite deles. O diretor sabe conduzir o espectador pela mão em uma corrente de imagens interessantes. E o roteiro também funciona com fluidez, mesclando o realismo e a fantasia, como comentei antes. Ainda que este filme tenha mais de duas horas, você não percebe o tempo passar porque ele é preciso a cada momento.

Da parte técnica do filme, também só tenho elogios. Além da ótima direção de fotografia de Luca Bigazzi, citada anteriormente, vale bater palma para a edição precisa de Cristiano Travaglioli e para a ótima trilha sonora de Lele Marchitelli. Ele faz jus à tradição dos grandes compositores do cinema italiano. Há música para todos os gostos neste filme, do clássico ao eletrônico, passando pela ópera e pelo pop. Um trabalho bem afinado e que ajuda a contar a história de Sorrentino. Além deles, vale destacar o ótimo trabalho dos figurinos de Daniela Ciancio, o design de produção de Stefania Cella e a direção de arte de Ludovica Ferrario. Os italianos, assim como os gregos, entendem de beleza e de fazer tudo se encaixar no seu devido lugar. 🙂

O elenco de La Grande Bellezza é considerável. Mas todos os demais atores orbitam, como satélites, ao redor do “sol” do personagem Jep Gambardella. Reforço o que eu comentei antes de que o ator Toni Servillo faz toda a diferença neste filme. Ele está perfeito na pele do personagem. E consegue fazer com que o espectador lhe admire, apesar da crítica inicial de frivolidade. Sempre elegante, com um olhar curioso e atento e com um sorriso no rosto grande parte do tempo, Servillo revela-se encantador. E ainda que tudo orbite ao redor dele, vale citar o trabalho de outros atores.

Entre os coadjuvantes, destaco Carlo Verdone como Romano, fiel amigo de Jep e que, frustrado, resolve deixar Roma, uma cidade que lhe trouxe muitos desgostos; Sabrina Ferilli como Romana, uma mulher de meia idade que segue fazendo streap-tease e que acaba se revelando, a exemplo de Jep, muito mais interessante do que à primeira vista (aliás, este é um dos ensinamentos do filme); Pamela Villoresi como Viola, amiga de Jep que tem um filho depressivo e problemático; a já citada Galatea Ranzi como Stefania, uma das mulheres que compõe aquele grupo e que mais se expressa no filme; Carlo Buccirosso como Lello Cava, um dos mais fieis amigos de Jep – e com quem ele tem uma troca divertida de frases; Giovanna Vignola está ótima como Dadina, a editora anã que publica entrevistas feitas por Jep; Dario Cantarelli como o ajudante da “santa” Maria; e a também já citada Giusi Merli como a “santa”, em um desempenho muito coerente e bem equilibrado.

A lista acima é apenas dos principais coadjuvantes e dos atores que acabam tendo um destaque um pouco maior. Mas a lista de personagens é muito, muito maior. Um trabalho muito rico, sem dúvida. E o que eu achei mais interessante: grande parte do filme ironiza a própria Itália, e este “italian way of life” bonachão, fanfarrão, que tanto faz mal para o próprio país. Vide um dos símbolos maiores deste “jeito de ser”, que é o famigerado Silvio Berlusconi. Em muitos aspectos Jep é um tipo de Berlusconi – mas sem a política, a máfia e tudo o mais inerente, como corrupção, crimes e etc. De qualquer forma, é certo que La Grande Bellezza faz uma crítica mordaz às aparências em geral e, especificamente, trata dos problemas na identidade italiana. Potente.

E antes que alguém me entenda mal, La Grande Bellezza tem sim efeitos especiais. Feitos por Luca Ricci. Mas o que eu quis dizer antes é que este filme não deixa evidentes estes efeitos, porque não tem neles a sua principal qualidade.

La Grande Bellezza estreou em maio no Festival de Cannes. Depois, o filme participaria ainda de outros 12 festivais, incluindo o Karlovy Vary, o de Munique, o de Toronto e o do Rio de Janeiro. Nesta trajetória, a produção ganhou sete prêmios e foi indicada a outros 16. Entre os que recebeu, destaque para o Globo de Ouro italiano de Melhor Direção de Fotografia para Luca Bigazzi; o de Melhor Edição para Cristiano Travaglioli no Festival de Cinema Europeu; e para os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante para Carlo Verdone, Melhor Atriz Coadjuvante para Sabrina Ferilli, Melhor Som, Melhor Direção de Fotografia e Melhor Ator para Toni Servillo pelo conjunto de trabalhos (que inclui também Viva la Libertà e Bella Addormentata) dados pelo Sindicato Nacional de Jornalistas de Cinema Italiano.

Como o próprio filme sugere, grande parte de La Grande Bellezza foi rodado em Roma. As cenas na praia, para quem quiser conhecer aquele paraíso, foram feitas na cidade de Grosseto, na Toscana.

La Grande Bellezza teria custado 9,2 milhões de euros e, até o dia 25 de novembro, teria conseguido quase 12,1 milhões de euros nas bilheterias nos mercados em que já estreou. Falta a produção chegar a outros países mas, aparentemente, ela conseguirá algum lucro. Nada perto de um blockbuster, mas um resultado importante para um filme com uma característica tão diferenciada e artística.

Agora, uma curiosidade sobre este filme: ele é dedicado a Giuseppe D’Avanzo, jogador de rugby e jornalista italiano que era amigo do diretor Sorrentino e que morreu no período em que La Grande Bellezza estava sendo rodado.

Paolo Sorrentino é um sujeito a ser acompanhado. Aos 43 anos, este diretor natural de Nápoles tem um currículo com 16 trabalhos, sendo seis curtas (incluindo um feito para a TV), um vídeo documentário, sete longas e dois segmentos em dois longas. O primeiro trabalho dele foi o curta Un Paradiso, de 1994, que Sorrentino dirigiu ao lado de Stefano Russo. Mas ele começaria a ser conhecido 10 anos depois com Le Conseguenze Dell’Amore, um filme que recebeu 10 prêmios e que era estrelado por Toni Servillo e Olivia Magnani. O auge chegou em 2008, quando teve Il Divo: La Spettacolare Vita di Giulio Andreotti indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Eu perdi a oportunidade de assistir a Il Divo. Mas vi a This Must Be the Place, comentado aqui no blog, e que me chamou a atenção pelo estilo.

Agora, Sorrentino está filmando um dos segmentos do filme coletivo Rio, Eu Te Amo, que tem previsão de estrear em 2014. Depois, ele deve abraçar o drama In the Future, em fase de pré-produção e com previsão para chegar aos cinemas em 2015 estrelado por Michael Caine. Não há informações ainda sobre o restante do elenco. Mas algo interessante de observar sobre Sorrentino é que ele tinha, desde o primeiro longa, L’uomo in Più, de 2001, e até La Grande Bellezza, Toni Servillo como o protagonista da maioria de seus filmes.

Os usuários do site IMDb deram a nota 7,6 para La Grande Bellezza. Uma boa avaliação levando em conta a tradição do site. Já os críticos que tem os seus textos linkados no Rotten Tomatoes dedicaram 55 textos positivos e cinco negativos para a produção, o que lhe garante uma aprovação de 92% e uma nota média de 7,8. A nota, em especial, é muito boa para os padrões do site. Bacana.

Estão habilitados para concorrer na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira no próximo Oscar o total de 76 filmes. A jornada para chegar na lista de cinco finalistas indicados é longa. Mas La Grande Bellezza aparece entre os 10 mais cotados na lista do crítico Peter Knegt, da IndieWire.

La Grande Bellezza é uma coprodução da Itália com a França.

CONCLUSÃO: Em certo momento derradeiro do filme entendemos a razão de seu título. A tal busca pela “grande beleza” pode ser entendida também como a busca pelo “sentido da vida”. Afinal, o que buscamos, o que desejamos no mais profundo do nosso ser? E o que justifica a nossa existência? São as velhas perguntas existenciais que tem múltiplas respostas e, neste filme, algumas delas. Além de provocador, La Grande Bellezza é visualmente maravilhoso. Uma ode à lindas imagens, enquanto mergulhamos em uma Roma de exageros, frivolidade, ambientes cheios de artistas e uma busca despreocupada por algo verdadeiro. Filme marcante, belíssimo e crítico. Lembra o melhor de Fellini. Reformulado, talvez, para a nova geração.

PALPITES PARA O OSCAR 2014: A cada produção bem cotada na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira do próximo Oscar que eu assisto fica mais evidente como a disputa será das boas. Difícil fazer uma aposta certeira, seja para a lista dos cinco indicados, seja para o filme que sairá vencedor.

A minha torcida estará dividida nesta categoria, não tenho dúvidas. Primeiro porque há muitos filmes realmente bons e merecedores fazendo a tradicional quebra-de-braço. Depois porque eles são tão diferentes entre si que é difícil bater o martelo em apenas um como preferido. O que deve acontecer com a minha torcida é “puxar a sardinha” para alguns mais que para outros.

Por exemplo, não acho que o tão badalado Le Passé (comentado aqui no blog) seja, no fim das contas, o filme com maior quantidade de méritos para levar uma estatueta. É fato que ele tem muitas qualidades, como comentei aqui neste post. Mas em uma disputa com La Grande Bellezza, Jagten (comentado aqui) e Wadjda (com crítica aqui), sem dúvida prefiro estes últimos. Agora, decidir entre um deles está ficando cada vez mais difícil.

Ainda que eu tenha gostado muito de Wadjda, como comentei por aqui, por considerá-lo um filme diferenciado e corajoso, acredito que meu coração e mente ficam mesmo divididos entre a força e ousadia crítica de Jagten e a beleza e o lirismo filosófico de La Grande Bellezza. Estes filmes são extremamente diferentes mas igualmente marcantes. Bem, isso levando em conta que faltam vários filmes para assistir ainda. De qualquer forma, a cada nova produção da lista, fica mais evidente que a disputa será boa. Espero que os melhores cheguem até a reta final.

ATUALIZAÇÃO (21/12/2013): A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood divulgou ontem, dia 20 de dezembro, a lista de filmes que avançaram na disputa da categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. La Grande Bellezza (ou The Great Beauty) está na lista das produções que estão mais perto de uma indicação. Os outros filmes que seguem tentando uma estatueta são os seguintes: The Broken Circle Breakdown (Bélgica), An Episode in the Life of an Iron Picker (Bósnia e Herzegovina), The Missing Picture (Camboja), Jagten ou The Hunt (Dinamarca), Two Lives (Alemanha), The Grandmaster (Hong Kong), The Notebook (Hungria) e Omar (Palestina).

Por Alessandra

Jornalista com doutorado pelo curso de Comunicación, Cambio Social y Desarrollo da Universidad Complutense de Madrid, sou uma apaixonada pelo cinema e "série maníaca". Em outras palavras, uma cinéfila inveterada e uma consumidora de séries voraz - quando o tempo me permite, é claro.

Também tenho Twitter, conta no Facebook, Polldaddy, YouTube, entre outros sites e recursos online. Tenho mais de 25 anos de experiência como jornalista. Trabalhei também com inbound marketing, professora universitária (cursos de graduação e pós-graduação) e, atualmente, atuo como empreendedora após criar a minha própria empresa na área da comunicação.

10 respostas em “La Grande Bellezza – The Great Beauty – A Grande Beleza”

A Grande Beleza é um dos melhores filmes que já vi nos últimos tempos. É realmente um sopro de ar fresco diante de tantos filmes ruins. O filme ganhou recentemente premiação de melhor filme europeu e melhor diretor, mais que merecido.

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Adorei o filme e adorei a sua análise, Alessandra. Descobri seu trabalho procurando por críticas de “A Grande Beleza” e fiquei muito impressionado. Espero que você continue por muito tempo. Ganhou um leitor!

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